A
imaturidade democrática na qual estamos mergulhados, no Brasil de
2015, é uma piada esquizofrênica de muito mau gosto. Essa
sintomatologia social, que tem se exacerbado desde as campanhas
eleitorais de 2014, só demonstra o longo caminho que ainda teremos
de percorrer para desenvolvermos uma consciência assentada sobre os
princípios da liberdade e da democracia.
Não
votei na Presidente da República atual. Isso não é segredo.
Observando a conjuntura sociopolítica, desde antes das últimas
eleições, já imaginava que ela seria reeleita – apesar de eu
haver desejado que não tivesse sido. Esse era o meu desejo
individual. Ele não se realizou – como eu esperava. A maioria dos
eleitores escolheram confiar em quem já governava. A dinastia do dia
permaneceu no poder. Ponto final no que tange aos próximos quatro
anos... Ao menos para mim era ponto final!
Durante
o período eleitoral, me irritei e me diverti deveras com as
idiotices que ouvi e li por aí. O exagero, o fanatismo, a
ignorância, o preconceito, a intolerância, a indelicadeza, a
insensatez, a imoralidade, tudo isso e muito mais, parecia ter
infectado a voz de muitos que eu conhecia. Me surpreendi com o fato
de pessoas aparentemente tão instruídas dizerem e escreverem tanta
idiotice, baseada num fanatismo partidário cômico, que me
envergonhei por seu comportamento. E isso, devo enfatizar, se
aplicava a todos os lados das preferências partidárias daqueles que
conhecia... Uma grande pena! Uma grande vergonha!
A
vergonha alheia só aumentou quando outros defendiam uma intervenção
militar ou o impedimento da Presidente da República, sem compreender
o sentido institucional de sua descomunal idiotice partidária. Eles
esqueceram que, numa sociedade livre e democrática, temos a
obrigação moral e constitucional de honrar a escolha dos outros eleitores
– pelo menos até que as instituições legais decidam que deve ser
de outra forma.
Por
isso não posso, em sã consciência democrática, me juntar àqueles
que exigem o impedimento da Presidente. Com base em quê isso seria
bem sucedido? Que evidências concretas há – não suposições
baseadas na paixão partidária, mas evidências que possam
sobreviver ao escrutínio legal – de seu envolvimento em atividades
criminosas que possam justificar seu impedimento? E o que isso faria
às instituições democráticas?
Que investiguem suas ligações com os acusados de corrupção. Que investiguem o financiamento de sua campanha. Que investiguem de
forma ampla e aberta. Aí, então, se forem encontradas evidências
suficientes que apontem crime, eu mesmo estarei na primeira fila
daqueles que pedem seu impedimento. Sem evidências concretas, só
estaria fazendo o que os fanáticos partidários dos que hoje ocupam
os tronos dos palácios executivos fizeram durante todo o período no
qual lá não estavam. Eram eles – os petistas – quem pediam o
impedimento dos anteriores (como Fernando Collor de Melo
que, posteriormente, tornar-se-ia aliado da administração petista;
e Fernando Henrique Cardoso que fez um imenso esforço para construir
a credibilidade política de Lula da Silva no cenário internacional,
antes de sua posse).
Sou
contrário a essa demanda pelo impedimento, assim como sou contrário
à servitude política de sindicatos e outros grupos ao governo
petista. Entretanto, apesar de ser contrário às suas demandas, como
um liberal democrata, sou a favor da vociferação das mesmas. Como
alguém que confia na democracia e na liberdade, acredito que não há
risco ou ameaça em se declarar e demandar, desde que de forma legal.
Logo, o sair às ruas exigindo um impedimento não é uma ação
golpista: é, antes, a manifestação duma crença ou desejo que,
mesmo equivocados, representam uma parcela da cidadania. O mesmo,
obviamente, se aplica àqueles que saíram às ruas para apoiar o
governo.
Os
fanáticos, contudo, tentarão convencê-los que o “outro” –
seja ela anti- ou pró- Rousseff – é golpista e antidemocrático
apenas por dar voz a uma opinião contrária. Essa atitude de
construção de inimigos e de divisão forçosa de classes
partidárias, para mim, é o que é a maior ameaça à democracia.
Vejamos
o que ocorrerá amanhã... Até lá, estou do lado da diversidade de
opiniões e, principalmente, das instituições de Direito!
+Gibson